
Foi com imensa tristeza que me deparei, no final da tarde de ontem, com a notícia chocante da morte de Alexander McQueen, um dos mais geniais estilistas que já conheci (acompanhado em meu pódio pessoal por John Galliano).
Lendo as primeiras notas sobre o caso divulgadas pela imprensa (o corpo de McQueen foi encontrado na manhã de ontem por uma empregada), a hipótese de suicídio ganha cada vez mais força. Segundo informações, o estilista inglês vinha enfrentando uma crise depressiva desde que sua mãe faleceu, há dez dias atrás.
Há dois dias, McQueen divulgou informações no seu twiiter de que sentia-se melhor, mais apoiado por seus amigos e com melhor estado de ânimo. Este relato fecha com uma constatação bastante comum quando se analisa o evento de suicídio após um grave episódio depressivo.
Ao contrário do que a maioria das pessoas imaginam, o período de maior risco para o ato de suicídio é exatamente quando os sintomas que tipificam a Depressão começam a ceder.
E é possível compreender por que é assim: crises depressivas de maior gravidade são tão incapacitantes, colocam a pessoa que a sofre num estado de prostração tão intensa, que até mesmo o ato insano do suicídio torna-se uma tarefa demasiadamente desgastante. Ou seja, é necessário melhorar, tornar-se um pouco mais capaz de administrar a própria vida, para se pensar e levar a cabo a ideia de morte como tentativa ditorcida de "alívio a dor" (UM ADENDO: no discurso de alguém que pensa em suicídio é recorrente ouvirmos a justificativa de busca de alívio na morte - ao que eu sempre respondo: mas não há alívio na morte, porque a ação de aliviar-se exige vida! Morrer é não existir mais. Vida impõe o movimento contínuo que caracteriza toda forma de existência humana - sofrer e se aliviar, e então sofrer de novo e de novo se aliviar. Ok, é justo que busquemos diminuir a quantidade de sofrimento e aumento do tempo nas coisas que nos dão prazer.).
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Igualmente trágico é que a pessoa que tenta suicídio deixa inadvertidamente como herança aos seus familiares uma comprovado aumento de mortes por suicídio na família. Estudos verificam prevalência estatisticamente significativa em casos de suicídio com histórico prévio familiar.
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Quando isto não ocorre (quando a família consegue permanecer forte o suficiente para entender o desequilíbrio absoluto que o ato suicida representa), pode desenvolver crises importantes de sentimento de culpa, além de pensamentos de dúvida de natureza especulativa sobre as circunstâncias da morte. Pertuntas jamais respondidas.
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Pensamentos como "o que ele pensou, com que propósito fez?", "será que queria mesmo morrer?", "será que ele não tentou me avisar e eu não estava suficientemente atenta aos sinais?", "será que não foi um pedido de socorro e eu não fui cuidadosa o suficiente para perceber a tempo de salvá-lo?" são dúvidas torturantes e comumente presentes. Nestes casos, somente uma grande vontade de melhorar permitirá ao familiar que fica superá-las.