14 de agosto de 2010

Alucinações Sinestésicas (ou just cause you feel it, doesn´t mean it´s there)

O conceito de Delírio e Alucinação costumam, para pessoas que não dominam o assunto, confundirem-se. E a melhor forma de explicá-los é partindo dos campos cognitivos distintos que especificam cada um deles. Alucinação é produzida no campo perceptivo. O delírio, no amplo campo do pensamento.
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Todavia, há uma dificuldade quando paramos pra pensar nos fenômenos alucinatórios (sim, bravo leitor, existem muitas e terríveis formas de se alucinar). Se a percepção exige, em princípio, um objeto (sonoro, visual, tátil, olfativo), como podemos falar em percepção sem objeto? Bom, grosseiramente resumindo, este é o conceito mais exato da alucinação: o sujeito receptor percebe um objeto sem que ele, de fato, exista (lembra-me os versos de "There, There", do Radiohead: just cause you feel it, doesn´t mean it´s there).
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No famoso livro do Dalgalarrondo, "Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais"[1], que todo estudante da área psi é obrigado a decorar nas inúmeras disciplinas de Psicopatologia que atravessa ao longo da formação, há um comentário sobre a estranheza do mundo percebido nos quadros de alucinação sinestésica. Diz ele:
"Nas fases iniciais de muitos quadros psicóticos, observa-se a estranheza do mundo percebido, na qual o mundo, como um todo, é percebido alterado, bizarro, difícil de definir pelo doente. O mundo parece que se transformou, ou parece morto, sem vida, vazio, ou ainda sinistramente outro, estranho."
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Psicopatologicamente, a definição é perfeita. Mas existem as boas sinestesias (conceito que não se confunde com o de alucinação sinestésica, é verdade).E ainda que não se confudam, são uma ótima desculpa para escrever este post com a única finalidade de indicar boa leitura na web (defendo a tese de que textos medíocres adoecem): o blog do Gilvan Tessari, "Sinestesia", versa sobre muita coisa interessante: grandes músicas, filmes imperdíveis, impressões sobre os assuntos menos prováveis de renderem bom textos (como garrafas plásticas e chá verde) de um sujeito em profundo contato com o mundo.
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Lembram-se do post que escrevi meses atrás sobre a desilusão que tipifica os deprimidos? Aqui está um autor que funciona contrariamente a tudo aquilo: aceita sentir de modo muito original as coisas do mundo (e isso não significa uma existência sem dor e sofrimento) e descreve suas impressões em textos interessantíssimos.
Recomendo a leitura a todos aqueles que se interessam por gente (eu me interesso):
Boa leitura! O link permanecerá ali do lado.
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Quer saber mais? Bibliografia indicada:
[1] Dalgagalarrondo, P. "Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais" 2ª ed. Porto Alegre: Artmed.