"Não se pode haver atalhos quando se quer conhecer profundamente uma pessoa. Isso poderia levar uma vida inteira. Mesmo que vivamos intimamente com outra pessoa, poderemos dizer que a conhecemos totalmente? Sempre, porém, tomamos alguns atalhos, e um dos mais comuns é o da estereotipia.
Quando encontramos estranhos, por exemplo, assim que soubermos de sua profissão, começaremos o processo de construção de um retrato deles. Talvez, então, comecemos a pensar que é possível colocá-los em uma categoria conhecida. Com base em nosso conhecimento prévio das pessoas que pertencem a essa categoria, podemos começar a pensar que sabemos mais a seu respeito do que de fato sabemos.
No entanto ter uma opinião mais adequada do que é mais importante e também individual em um estranho demandará muito mais trabalho. Contudo, quando estamos impacientes e queremos afastar a sensação de estar diante de um estranho, bem como desconforto do desconhecido, partimos então para o que é conhecido. Podemos notar isso acontecendo nas análises também."
[Casement, P. "Aprendendo com nossos próprios erros: para além do dogma na psicanálise e na psicoterapia". Porto Alegre: Artmed, 2004, p.130]