28 de novembro de 2009

O Conceito de "Carga de Doença"

A saúde pública começa a utilizar um novo conceito epidemiológico de mensuração de morbidade na população mundial. O objetivo é descrever de modo mais preciso o impacto que determinada doença ou transtorno provoca na vida das pessoas, quando as acomete.

O mais utilizado (e ainda muito importante) é o conceito de Prevalência. Entretanto, saber o quanto as pessoas adoecem não representa, de modo fidedigno, as perdas funcionais ou o sofrimento ocasionado por determinada patologia. Por exemplo, podemos dizer que há uma alta prevalência, no verão, de micoses - sem dúvida um desconforto dermatológico. Mas isso não significa dizer que ela nos incapacite ou nos ameace consistentemente (pode, no máximo, coçar um bocado).

Pensando nisso, um novo conceito - o de Carga de Doença - começa a ser mais utilizado para medir quanto e como as populações do mundo vivem e sofrem o impacto de determinada patologia.

Trata-se de um índice mensurável pelo cálculo acima, nada simpático. Nesta equação complexa, variáveis como "anos de vida perdido por morte prematura (YLL)", "anos de vida perdido por incapacidade (YLD)" além de "mortalidade", "prevalência", "esperança de vida" e "peso das incapacidades" são levados em consideração. Isso quer dizer que, aproveitando o exemplo acima, ainda que a prevalência da micose seja altíssima, ela não mata, nem impossibilita que determinada pessoa trabalhe, tome ciência das coisas da vida, interaja com os outros. Enfim, que determinado indivíduo desfrute a vida.

Um estudo da Fiocruz (2002) apontou para a carga de doença no Brasil, ou seja, quais são os quadros que mais incapacitam a população brasileira. Eis a lista:


CARGA DE DOENÇA NO BRASIL:

1º Lugar: Diabetes - 5,1%
2º Lugar: Doença Cardiovascular - 5,0%

3º Lugar: Doença Cerebrovascular - 4,6%

4º Lugar: Depressão - 3,8%

5º Lugar: Asfixia e traumatismo ao nascer - 3,8%

6º Lugar: Doença Pulmonar obstrutiva crônica -3,4%

7º Lugar: Violência - 3,3%

8º Lugar: Infecções de vias aéreas inferiores - 2,9%

9º Lugar: Acidentes de trânsito - 2,7%

10º Lugar: Demência - 2,6%

11º Lugar: Uso nocivo de álcool - 2,5%

12º Lugar: Diarréia - 2,1%

13º Lugar: Esquizofrenia - 1,9%

14º Lugar: Asma - 1,8%

15º Lugar: HIV/AIDS - 1,2%

Os aspectos mais relevantes (e motivo do meu comentário) é que entre as 15 causas de morbidade e morbimortalidade no Brasil, cinco estão diretamente vinculadas à Saúde Mental. A mais freqüente delas é a Depressão, cujas estatísticas mundiais revelam índices de prevalência progressivamente mais altos (sendo a população feminina a mais atingida; prometo escrever sobre as possíveis causa desta maior vulnerabilidade num outro dia).


O mais irônico disso tudo é que ainda não temos uma saúde pública preparada para previnir e/ou assistir a população acometida por qualquer psicopatologia, mesmo com a OMS estabelecendo - desde 2001 - que Saúde Mental é, sim, responsabilidade dos três níveis de atenção e, principalmente da atenção primária (ou atenção básica, como chamamos a atenção primária no país).


O que os dados do estudo da Fiocruz revelam é que a Depressão é altamente incapacitante na medida em que faz com que as pessoas deixem de viver plenamente. Sujeitos que sofrem de depressão produzem menos, desfrutam menos, vivem de modo bastante restrito. Precisamos de políticas públicas que dêem conta do problema, assim como temos para as DST/AIDS (que, os dados acima indicam, é muito menos freqüente na população brasileira, e muito mais financiado).